«Os sobreviventes da sangrenta repressão que se seguiu ao fatídico dia 27 de Maio de 1977, cujas causas estiveram na base de tão cruel massacre, entendem ser urgente esclarecer a opinião pública Nacional e Internacional, o seguinte:
A maioria dos sobreviventes do massacre, perfeitamente identificáveis, têm acompanhado com redobrado interesse e atenção as acções que vêm sendo desenvolvidas pelo Executivo angolano, com destaque para o Decreto Presidencial exarado por sua Excelência o Presidente da República, cuja iniciativa aplaudem, atendendo ao facto de terem decorrido cerca de 42 anos desde aquele fatídico dia e nunca uma iniciativa do género ter sido tomada pelo anterior titular e seu Governo.
Face ao interesse que tem suscitado tal iniciativa, um grupo significativo de sobreviventes tomou conhecimento de uma determinada organização estar a estabelecer contactos com o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, apresentando-se como único interlocutor válido das vítimas do massacre.
Daí importar esclarecer o facto da esmagadora maioria dos sobreviventes que realmente esteve presa, quer nas diversas cadeias como em campos de concentração, não estar filiada em organizações de espécie alguma, estando a aguardar pela criação da Comissão que venha a dialogar com as vítimas, no âmbito do Decreto Presidencial exarado pelo titular do Poder Executivo para este efeito.
Assim, os sobreviventes e subscritores do presente comunicado não questionam a legitimidade que assiste à referida organização, porém, reiteram que não estão nela filiados nem em qualquer outra e, por isso, entendem que para a resolução do Dossier 27 de Maio o Executivo Angolano deve dialogar com aqueles que realmente foram vítimas das atrocidades cometidas na ressaca do dia 27 de Maio, as que realmente estiveram encarceradas nas cadeias e campos de concentração especialmente criados para esse efeito e neles sobreviveram.
Nós defendemos que o diálogo deve estender-se aos órfãos e viúvas dos desaparecidos, quanto mais não seja através da criação de uma plataforma ampla que venha a servir de interlocutor válido para o diálogo com a Comissão Governamental a criar no âmbito do Decreto Presidencial.
É nesta perspectiva que, brevemente, os sobreviventes vão submeter uma missiva a Sua Excelência o Presidente da República, para expor e sugerir o que pensam acerca desta questão do 27 de Maio, que pela sua magnitude e profundidade, entendem requerer um tratamento diferenciado, com pessoas idóneas, sérias e com legitimidade comprovada.»
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